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A Pérgola do Estacionamento da Administração do Sítio Roberto Burle Marx

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Esta publicação tem, como dizem os americanos (demonstrando a liberdade a que estão acostumados) “a high level of ad-hoc-ness", isto é, foi feita só para corrigir uma situação estranha que encontrei em postagem de um ex-amigo, no Facebook. Quando cheguei para dirigir o Sítio Roberto Burle Marx, em 1995, encontrei amontoadas no chão umas espécies de mãos francesas gigantes, feitas de metal. Eram seis e tinham sido deixadas pelo diretor que me antecedeu. Os desenhos correspondentes indicavam que deveriam ser fixadas no muro de pedras adjacente à área de estacionamento para criar uma pérgola e proteger os carros do sol. Porém tal objetivo era impossível ser alcançado por três motivos: 1- FIXAÇÃO. A fixação no muro era problemática, pois tais mãos francesas, pelo simples peso das mesmas, agiriam como alavancas e extrairiam as pedras do muro, de modo semelhante ao de um martelo arrancando pregos. A alternativa a essa forma de fixação seria cara demais, exigindo a demolição do muro em v

Estrela 20 - Copernicia macroglossa

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Motivado pelo aniversário número 111 de nosso saudoso mestre, resolvi, depois de muito tempo, acrescentar mais um capítulo à serie Estrelas do Sítio Burle Marx. Trata da ‘palmeira lava-a-jato’. Não! Nada a ver com a operação que desmontou um grande esquema criminoso em nosso país. Foi apenas o aspecto da palmeira que sugeriu este apelido. Um visitante reparou que ela parecia com aqueles grandes rolos verticais que, girando, fazem a lavagem de carros nos postos de gasolina. Como as folhas secas da palmeira permanecem durante muito tempo agarradas ao tronco, sua aparência também resultava num cilindro felpudo. No final dos anos 70, Burle Marx ganhou do então presidente do IPHAN, Renato Soeiro, uma fachada de pedra que ficava na Rua de São Bento, próxima à Praça Mauá. Soeiro disse que Roberto era o único “maluco suficiente” que ele conhecia, para salvar da demolição o belo trabalho de 40m x 8m em cantaria. Roberto teve, talvez naquele momento, a ideia de construir seu atelier com est

Estrelas 18 e 19 - Artocarpus incisa L. e Pitcairnia multiflora L. B. Smith

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As estrelas desta vez são duas e vão juntas por “trabalharem” no mesmo filme, um que já conta com cinco versões: O Grande Motim, baseado em história verídica. Artocarpus incisa e Pitcairnia multiflora relacionam-se de maneira tênue, é verdade, mas o fato de ser tênue, ao invés de diminuir o interesse, no meu wishful thinking , cria-o. A primeira foi o motivo da viagem tumultuada e a segunda pertence a um gênero que homenageia um parente de quem localizou a ilha onde foram se refugiar alguns dos participantes dessa aventura. Tênue demais? Concordo, mas quando a gente vê as plantas, sabendo da história, faz algum sentido. Corria o ano de 1787, quando partiu de Londres o navio armado Bounty, comandado pelo perseverante tenente William Bligh, com a ordem de ir até o Taiti buscar mudas da árvore da fruta-pão, por suas econômicas e alimentícias virtudes, e levá-las à Jamaica. Depois de tentar, durante um mês de ventos desfavoráveis, chegar ao Pacífico pela passagem de Drake (entre a Terra

Estrela 17 - Warscewiczia coccinea (Vahl) Klotzsch

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Foto detalhe de Harri Lorenzi Originaria da Amazonia, América Central e Caribe, a estrela desta vez é também planta nacional de Trinidad-Tobago. Seu nome científico, de tão complicado, encontra-se por aí escrito de várias formas, mas acreditamos que a correta é esta do título. Pertence à família Rubiaceae, a mesma do café, da Mussaenda e da Ixora. Os adjetivos associados a esta planta vão de lindíssima a tiradora-de-fôlego (breathtaking), passando por espantosa (awesome). O nome popular é rabo-de-arara e, em inglês, também é chamada “wild poinsettia” (como poinsettia é o nosso bico-de-papagaio e wild é selvagem, fica meio estranho traduzir por bico-de-papagaio-selvagem, e bico-selvagem-de-papagaio não ajuda em nada). É planta espetacular, dotada de alto poder de deixar visitantes boquiabertos. No entanto, paradoxalmente, está ainda muito pouco utilizada em paisagismo. Talvez isto se deva à dificuldade de multiplicação desta espécie. Aqui no Sítio foram feitos muitos alporques, vá

Estrela 16 - Solanum cernuum Vell. (ou Solanum castaneum Carvalho)

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As bonitas que me desculpem, mas, para ser estrela, beleza não é fundamental. Apelidada Árvore do Rato Morto, se existe uma flor feia, é esta. Tanto que, certa feita, depois de apresentar a um grupo de amigos a arvoreta de 3,5m de altura – na ocasião vergada ao peso de inúmeras flores minúsculas, dotadas de longos, desproporcionais, pardacentos e hirsutos pecíolos – senti-me quase culpado diante do desencanto geral. Aí, na tentativa de revigorar os ânimos abatidos pela desalentadora visão, não resisti e chutei: – Mas é medicinaaaal! O efeito foi incrível, todos se mostraram alegremente dispostos a crer nos poderes curativos, porém tive que confessar: – É brincadeira, foi só para animar. Anos depois, o botânico Harri Lorenzi me revelou que o nome popular do infeliz vegetal era Panacéia, ou seja, remédio para toda enfermidade. – Então eu estava certo! Foi meu primeiro pensamento, mas em seguida, fulminando esta ilusão, me baixou uma grave suspeita: ela não era medicinal coisíssima nenhu

Estrela 15 - Dieffenbachia sp. (Costa Rica)

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Logo ao adentrar o Sombral Graziela Barroso, os visitantes geralmente se espantam com o tamanho descomunal de umas plantas, trazidas por Burle Marx das selvas da Costa Rica, que lembram muito as popularmente chamadas “comigo-ninguém-pode”. Mas não sendo da espécie picta , aquela comum e que sabemos ser venenosa, pertencem ao mesmo gênero Dieffenbachia , ao qual o povão atribui poderes de afastar “mau-olhado”. Por isso é que as nossas agigantadas Dieffenbachiae aqui estão apelidadas de “comigo-ninguém-mas-ninguém-mesmo-pode”, fazendo, cum grano salis , corresponder tamanhos e poderes, o que, óbvio, não é sempre verdade. Sendo um de nossos afazeres mais importantes o back up do acervo vegetal, há algum tempo fizemos outro grupo, com mudas dessa mesma planta, em outro lugar do SRBM, onde vieram a florir agora (fevereiro de 2009). O gênero Dieffenbachia tem cerca de 140 espécies, 13 da Costa Rica. Se alguém conseguir identificar esta espécie, por favor me avise.

Estrela 14 - Ficus mysorensis var pubescens

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Ficus mysorensis B. Heyne ex Roth var. pubescens Roth. A parte meridional da Índia tem duas costas que formam os lados de um ângulo agudo apontado para o sul: a do Coromandel, banhada pelo golfo de Bengala, e a ocidental que é a Costa do Mysore, frente ao Mar da Arábia. A notória perspicácia dos meus leitores me autoriza supor que ambos já adivinharam de onde vem a estrela desta vez. Aqui no Sítio, ela reina absoluta, superembasada num raizame que mais parece um congresso de sucuris promíscuas e que capta irresistivelmente a atenção de TODOS os visitantes. Fazendo jus à má fama das raízes dos ficus, estas já deram uma rasteira mortal num pau-rei ( Pterygota brasiliensis ) vizinho. Agora, tudo indica que se preparam para desferir um golpe de misericórdia num incauto pau-ferro ( Caesalpinia ferrea ). Quando cheguei ao SRBM para ser diretor, em 1995, estas raízes espaventosas ficavam invisíveis, submersas na folhagem oportunista de uma espécie de jibóia muito comum, o pé-de-gal