A Pérgola do Estacionamento da Administração do Sítio Roberto Burle Marx

Esta publicação tem, como dizem os americanos (demonstrando a liberdade a que estão acostumados) “a high level of ad-hoc-ness", isto é, foi feita só para corrigir uma situação estranha que encontrei em postagem de um ex-amigo, no Facebook.


Quando cheguei para dirigir o Sítio Roberto Burle Marx, em 1995, encontrei amontoadas no chão umas espécies de mãos francesas gigantes, feitas de metal. Eram seis e tinham sido deixadas pelo diretor que me antecedeu. Os desenhos correspondentes indicavam que deveriam ser fixadas no muro de pedras adjacente à área de estacionamento para criar uma pérgola e proteger os carros do sol.

Porém tal objetivo era impossível ser alcançado por três motivos:

1- FIXAÇÃO.

A fixação no muro era problemática, pois tais mãos francesas, pelo simples peso das mesmas, agiriam como alavancas e extrairiam as pedras do muro, de modo semelhante ao de um martelo arrancando pregos. A alternativa a essa forma de fixação seria cara demais, exigindo a demolição do muro em vários pontos, um para cada mão francesa, e a criação de bases de concreto resistentes o suficiente para suportar o grande balanço da haste horizontal (mais ou menos 6 m) da mão francesa que forma o teto da pérgola.

2- POSIÇÃO.

Sendo o muro, onde seriam fixadas tais mãos francesas, inclinado para trás e, além disso, havendo ali uma jardineira que aumentava de largura ao longo do muro, afastando ainda mais a área de estacionamento do muro, caso resolvido o primeiro problema, os carros ficariam mais da metade fora da pérgola, em posição totalmente desfavorável, pois o sol na parte da tarde fica cada vez mais oblíquo, tornando uma pérgola nessas condições inútil para o fim pretendido.

3- OSCILAÇÃO

Mesmo que os dois problemas anteriores não existissem, uma vez fixadas, as peças estruturais da pérgola projetada oscilariam lateralmente quase 1 m. Me dei conta disso ao fazer um teste. Tal problema resultaria muito provavelmente na destruição de qualquer tipo de fixação no muro.

Resumindo, eu estava com um abacaxi nas mãos. Talvez isso - livrar-se dele - tenha contribuído para o convite que me foi feito pelo diretor que me antecedeu - meu ex-muy amigo - depois de oferecer o mesmo cargo a várias outras pessoas que recusaram a responsabilidade.

Felizmente, depois de muito pensar, consegui encontrar um meio de, aproveitando aquelas mesmas peças, erguer a pérgola e evitar o vexame do equivocado projeto original.

Abandonei a ideia de prender as mãos francesas no muro e fixei-as no chão entre as vagas dos carros, ganhando preciosos metros de sombra. Para tanto tive que mandar estender a haste não horizontal das mesmas, soldando uma continuidade de mais ou menos 2 m em cada uma e cravando-as numa base de concreto ao nível dos paralelepípedos do piso do estacionamento.

Foi necessária também a adição de espaçadores entre as peças, já que tampouco haviam pensado na enorme oscilação lateral delas, e solucioná-la cruzando os cabos de aço que perpassam todas as peças.

O resultado, modéstia à parte, ficou ótimo, a pérgola ganhou leveza e, mais, desvinculou-se simbolicamente do patrimônio tombado, representado pelo muro, reduzindo ao mínimo seu contato ao se apoiar no chão por meio de seis delgados prolongamentos das peças estruturais.

Meu ex-amigo foi lá, depois de concluída a obra, viu tudo e não disse nada. Agora estou na dúvida entre se ele nem percebeu as mudanças ou entendeu tudo, mas ficou na dele, já que, em sua cabeça talvez, agradecer-me seria reconhecer o fracasso de seu projeto.

Até aí, tudo bem, eu nem tocaria nesse assunto embora seja talvez interessante para alguns.

O que me forçou a esse texto é que fiquei sabendo de uma postagem recente dele no Facebook, vangloriando-se de seu projeto, como se errado não fosse, E DO RESULTADO(!!!) sem citar minha participação. 

Ao solicitar minha inclusão ao menos como co-autor (isso seria o mínimo, pois o que fiz foi muito mais do que colaborar no projeto, foi salvá-lo de um fracasso retumbante) ele, em vez de finalmente me agradecer e se desculpar, me bloqueou sem resposta alguma (lacrou). Nem tenho meios de saber se ele modificou sua postagem ou apagou o que eu disse fazendo de conta que nada aconteceu.

Fica aqui, portanto, esta limitada tentativa de restauração da verdade.


29/11/2023



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